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Teatro da crueldade e teatro do absurdo

Teatro da crueldade

Antonin Artaud (1896 1948) foi considerado um louco visionario do teatro surrealista, que apesar de ter morrido sem ver muito suas teorias realizadas na pratica, influenciou varios teatrologos que o sucederam, entre eles, Jerzy Grotowski, cujas teorias deram origem ao Teatro Pobre e Peter Brook, teatrologos que serao abordados mais a frente. Ate o surgimento do mito Artaud, eram considerados pilares de sustentacao teatral, o russo Stanislavski e o alemao Brecht, que propuseram formas diferenciadas de atuar (Veja capitulos anteriores). Ja o frances Artaud possuia grandes pretensoes a respeito de sua arte. Junto com Roger Aron, foi um dos primeiros diretores surrealistas, com a proposta de contestar o teatro naturalista, principalmente o frances, que se mostrava muito retorico e paradigmatico. Artaud pregava o uso de elementos magicos que hipnotizassem o espectador, sem que fosse necessaria a utilizacao de dialogos entre os personagens, e sim muita musica, dancas, gritos, sombras, iluminacao forte e expressao corporal, que comunicariam ao publico a mensagem, reproduzindo no palco os sonhos e os misterios da alma humana.
Artaud era incisivo ao abordar suas concepcoes teatrais: O teatro e igual a peste porque, como ela, e a manifestacao, a exteriorizacao de um fundo de crueldade latente pelo qual se localizam num individuo ou numa populacao todas as maldosas possibilidades da alma. Assim, surgiu o nome de sua teoria, o Teatro da Crueldade, que sofreu grande influencia do teatro oriental, principalmente o balines. Em seu livro O Teatro e Seu Duplo, o teatrologo reafirma seu descontentamento com o teatro europeu, denunciando a perda do carater primitivo do teatro como cerimonia, avaliando o teatro oriental como original, ressaltando que esse manteve seu aspecto cultural milenar, sem interferencia, constituido pelos temas religiosos e misticos, numa confraria que propoe principalmente saudar o desconhecido e constituir um universo ingenuo que nao busque a explicacao e a psicologia, como no teatro ocidental, e sim uma perspectiva pessoal a respeito do mundo.
O que incomodava fortemente o teatrologo era a exposicao da arte relativa a comercializacao, onde os atores e os diretores seguiam fielmente um texto a fim de conseguir uma perfeita equacao, que segundo Artaud era antipoetico e um teatro de invertidos comerciantes. Artaud criticava abertamente a expressao corporal subordinada ao texto, pois achava ser inutil os musculos se movimentarem em detrimento da emocao superficial, de maneira sistematica, como mascaras gregas, procurando fazer o mais facil, que e imitar, reproduzir sem maiores resolucoes o tema abordado e sua subjetividade sem buscar um aprofundamento maior. Tudo em prol do superficial, do rapido, do facil e do lucrativo.
Hoje reconhecido como um profeta do teatro, Artaud deflagrou a Industria Cultural no teatro, alem de questionar o teatro discursivo. Porem, esse reconhecimento so veio apos a sua morte. Em vida, Artaud nao conseguiu por em pratica grande parte de suas teorias, pretensiosas demais para a epoca e muito paradoxal. Porem, como ensaio serviu para dar um outro panorama a arte dramatica, permitindo assim que se abrisse um paralelo, uma porta que serve como alternativa, como ritual de confrontacao para as tecnicas classicas, que mantinham normas milenares sem nenhuma contestacao. Artaud, como um dos percursores do Surrealismo, pode inserir esse genero na arte dramatica, alem de sugerir maior inovacao e arrojo nas obras de arte, seja ela pintura, arquitetura, danca, composicao, musica, etc.
Antes mesmo da segunda guerra o mundo estava muito dividido em relacao ao comunismo e, por outro lado, a sombra do fascismo pairava sobre a Europa. A Escola de Frankfurt, que tinha em Walter Benjamin (1892 1940), seu principal e mais radical teorico, foi responsavel por combater a chamada Industria Cultural, buscando impor antes, durante e depois da Segunda Guerra, as suas teorias marxistas, tendo como objeto de estudo a arte de paises capitalistas, que e encarada como produto. Alem de Benjamin, outros tres grandes teoricos se destacaram: Max Horkheimer (1895 1973), Theodor Adorno (1903 1969) e Jrge Habermans (1929 - ), que elaboraram, primeiramente durante a crise alema, indigestas teorias a respeito da manipulacao da comunicacao na Europa, principalmente na Alemanha, onde o nazismo conquistava cada vez mais votos contra os comunistas. Os quatro foram cacados pela Gestapo (policia alema), o que culminou no suicidio de Walter Benjamin em 1940.
Por ser da mesma epoca e viver os mesmos ares de uma Europa em crise, Artaud com certeza sofreu grandes influencias da Escola de Frankfurt, de forma que algumas de suas teorias se aproximam bastante ao que propos Benjamin. Esse teorico era contra a utilizacao desenfreada da arte em prol da capitalizacao, o que, segundo ele, desgastava a importancia da obra. Adorno, apesar de tambem criticar, buscou ver o lado positivo da comercializacao da arte, alegando que a divulgacao estreita os lacos da obra artistica com a sociedade. Porem Adorno rechaca a utilizacao da obra como um bem particular, afirmando que tal prestigio impede que toda a sociedade manifeste interesse por uma obra. Hockheimer concorda e alega que as diferencas sociais impedem que o publico se aproxime de uma obra original e sim de copias e criacoes voltadas para o faturamento de riquezas, transformando a cultura em um bom produto para venda, manipuladas pelo marketing, subordinado a moda vigente, com uma demanda limitada do publico mais rico.

Segundo manifesto do teatro da crueldade, de Antonin Artaud
"Admitido ou no admitido, consciente ou inconsciente, o estado potico, um estado transcendente de vida, no fundo aquilo que o pblico procura atravs do amor, do crime, das drogas, da guerra ou da insurreio.
O Teatro da Crueldade foi criado para devolver ao teatro a noo de uma vida apaixonada e convulsa; e neste sentido de rigor violento, de condensao extrema dos elementos cnicos, que se deve entender a crueldade sobre a qual ele pretende se apoiar.
Esta crueldade, que ser, quando necessrio, sangrenta, mas que no o ser sistematicamente, confunde-se portanto com a noo de uma espcie de rida pureza moral que no teme pagar pela vida o preo que deve ser pago.

1. Do Ponto de Vista do Fundo
quer dizer, dos assuntos e temas tratados:
O Teatro da Crueldade escolher assuntos e temas que correspondam agitao e inquietude caracterstica de nossa poca.
No pretende abandonar para o cinema a tarefa de produzir os Mitos do homem e da vida modernos. Mas far isso de um modo que lhe prprio, isto , em oposio ao deslizamento econmico, utilitrio e tcnico do mundo, por em moda outra vez as grandes preocupaes e as grandes paixes essenciais que o teatro moderno cobriu sob o verniz do homem falsamente civilizado.
Esses temas sero csmicos, universais, interpretados segundo os textos mais antigos, tirados das velhas cosmogonias mexicana, hindu, judaica, iraniana etc.
Renunciando ao homem psicolgico, ao carter e aos sentimentos bem delimitados, ao homem total e no ao homem social, submetido s leis e deformado pelas religies e pelos preceitos, que esse teatro se dirigir.
E desse homem ele pegar no apenas o recto mas tambm o verso do esprito; a realidade da imaginao e dos sonhos surgir em igualdade de condies com a vida."

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Teatro do absurdo

Teatro do Absurdo

O Teatro do absurdo nasceu do Surrealismo, sob forte influencia do drama existencial. O Surrealismo, que explora os sentimentos humanos, tecendo criticas a sociedade e difundindo uma ideia subjetiva a respeito do obscuro e daquilo que nao se ve e nao se sente, foi fundamental para o nascimento desse genero que buscava, na segunda metade do seculo XX, representar no palco a crise social que a humanidade vivia, apontando os paradigmas e os valores morais da sociedade como fatores principais da crise. A principal fonte de inspiracao dos dramas absurdos era a burguesia ocidental, que, segundo os teoricos do Absurdo, se distanciava cada vez mais do mundo real, por causa de suas fantasias e ceticismo em relacao as conseqencias desastrosas que causava ao resto da sociedade.
Como o proprio nome diz, o Teatro do Absurdo propoe revelar o inusitado, mostrando as mazelas humanas e tudo que e considerado normal pela sociedade hipocrita. Essa vertente desvela o real como se fosse irreal, com forte ironia, intensificando bem as neuroses e loucuras de personagens que, genericamente, divulgam o homem como um psicotico, um sofredor, um ser que chega as ultimas conseqencias, culminando sempre na revolucao, no atrito, na crise e na desgraca total. Extremamente existencialista, o Absurdo critica a falta de criatividade do homem, que condiciona toda a sua vida aquilo que julga ser o mais facil e menos perigoso, se negando a ousar, utilizando-se de desculpas para justificar uma vida mediocre.
O Teatro do Absurdo foca principalmente o comportamento humano, deflagrando a relacao das pessoas e seus atos concomitantes. O objetivo maior desse genero e promover a reflexao no publico, de forma que a maioria dos roteiros absurdos procuram expor o paradoxo, a incoerencia, a ignorancia de seus personagens em um contexto bastante expressivo, tragico, aprofundado pela discussao psicologica de cada personagem apresentado, com uma nova linguagem. Para Ionesco, Membro da Academia Francesa, autor de um dos primeiros espetaculos absurdos, como A Cantora Careca (1950), renovar a linguagem, e renovar a concepcao, a visao do mundo. Essa linguagem e traduzida nao so nas palavras de cada um dos personagens, e sim em todo o contexto inovador, pois cada elemento no Teatro do Absurdo influencia a mensagem, inclusive os objetos cenicos, a iluminacao densa e utopica, alem dos figurinos. Todos esses elementos materiais do espetaculo contribuem para o enriquecimento da mensagem que deve ser clara para nao haver duvidas por parte do publico. A ironia constitui-se numa figura de linguagem extremamente dificil de ser praticada no palco, pois, exagerada ou mal formulada, pode ganhar um sentido contrario aquele intencionado pelo diretor. Um outro fator importante e que, no Teatro do Absurdo, muitas vezes o cenario, o figurino e a nuancas nas interpretacoes se tornam ainda mais importantes do que o proprio texto. O texto em si promove uma nova leitura, cuja concepcao tornara possivel a construcao cenica dentro de um vies preferido pelo diretor.
Um dos autores de vanguarda do Teatro do Absurdo e Samuel Beckett autor do classico Esperando Godot, que conta a historia de dois personagens que esperam ansiosos por ajuda numa terra onde nada acontece de inovador, onde tudo se repete sem cessar, obrigando os angustiados personagens a tentar iludir a tristeza e frustracao. Esse texto traduz perfeitamente a essencia do Absurdo, sendo Beckett uma pessoa que, desde jovem manifestava seu dom a rebeldia, sendo um homem contrario a religiosidade, mesmo sendo de familia protestante, alem de ser um homem adepto a revolucao dos costumes. O Absurdo, assim como o Dadaismo, promoveu a revolucao na linguagem e na ideologia da sociedade, obtendo muitas criticas de um publico que, apesar de proletario, consumia o idealismo burgues da epoca. Harold Pinter (1930- ), autor de Velhos Tempos, O Zelador, A Colecao e o autor americano Edward Albee (1928 - ), autor de Quem Tem Medo de Virginia Woolf, buscaram a orientacao absurda para tecer suas criticas em favor das classes menos favorecidas, constituindo obras anti-literarias, com o mesmo brilhantismo de Ionesco e Beckett (que ganhou o Premio Nobel em 1969), com identidades proprias que lhes deram lugar de destaque na historia da arte dramatica.
A partir das ideologias de Artaud de quebra com os paradigmas classicos do teatro ocidental, surgiu o Teatro Panico, uma forma de Teatro do Absurdo calcado no drama e em contextos que mostram a revolta do autor perante o mundo. Apesar de possuir algumas ideias artaudianas, o Teatro Panico mantem elementos basicos do teatro ocidental, como o dialogo de seus personagens. Esse genero foi essencial para reafirmar o Teatro do Absurdo como vertente teatral, propondo a forma agressiva de expor seus personagens numa critica mordaz contra a sociedade, onde homens e mulheres vivem suas vidas num limite extremo, sempre numa virtual solidao.
A concepcao de Teatro Panico nasceu em fevereiro de 1962, em Paris, e misturava terror com humor. A filosofia panica diz que a memoria e fundamental para o homem, pois esse nao passa de um grande fundo de saberes que, com o passar dos anos, compoe um quadro estetico, etico e moral. Na visao de um dos principais diretores do Teatro Panico, o espanhol Fernando Arrabal, autor de A Guerra dos Mil Anos, o Panico mistura a vida privada com a vida artistica, o lirismo e a psicologia, onde o teatro passa a ser encarado como um jogo, ou uma festa. Muitos associaram o Panico com o Dadaismo, genero que contesta a razao em prol do subjetivo. Dessa forma, os espetaculos panicos propoem, acima de tudo, uma linguagem extremamente transcendental em relacao aos temas abordados. Nada disso poderia ser possivel sem a estruturacao do Teatro do Absurdo que possibilitou no homem uma evolucao no que se diz respeito aos seus dogmas.

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